
Obra começou em 2007, deveria ter saído em 2012 e hoje é esperada para 2016
(Foto: Guga Matos/ JC Imagem)
O vídeo da campanha é fácil de
encontrar: a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula posam ao
lado do que seria a transposição das águas do Rio São Francisco
funcionando. Não bastasse a transposição estar longe do fim, dois meses
após a campanha a gestão Dilma acumula decisões e erros que só atrasam
ainda mais o dia em que as famílias pernambucanas serão de fato
beneficiadas pela megaobra. O governo federal parou de mandar dinheiro
para um importante complemento da transposição, a Adutora do Agreste. A
obra travou e fechou 2014 com R$ 75 milhões em atraso. Além disso, na
última segunda-feira o Ministério da Integração Nacional adiou – de novo
– a licitação da mais importante conexão entre a transposição e
Pernambuco, o Ramal do Agreste.
No imaginário popular, a transposição
sozinha resolveria a seca no interior. Não é assim. A obra é formada por
dois grandes canais e dezenas de reservatórios. Túneis, pontes e
imensas bombas vão ajudar a água a correr pelo interior, saindo de
Pernambuco rumo à Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
No geral, contudo, a transposição é como
a tubulação de água que passa pela rua: cada casa ou prédio precisa das
próprias ligações e encanamentos internos, para usar a água.
Em Pernambuco, a ligação com a
transposição é o Ramal do Agreste, um canal para levar água de Sertânia
até Arcoverde, onde começam os “encanamentos internos” do Estado, a
Adutora do Agreste, conjunto de 1.100 quilômetros de tubos para levar a
água a 68 cidades.
A transposição deveria estar pronta
desde 2012, a um custo de R$ 4,5 bilhões. Ela subiu para R$ 8,2 bilhões
e, após vários atrasos, ficou para janeiro de 2016. Mesmo assim, parece
óbvio, se a transposição começou a ser construída em 2007, sua ligação
com Pernambuco, o Ramal Agreste, avaliado em R$ 1,3 bilhão, já deveria
estar em obras há muito tempo. Mas as licitações, ano a ano, esbarram em
questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU) e de várias
empreiteiras.
Em abril passado, antes das eleições,
Dilma festejou o lançamento de um dos muitos editais do Ramal do
Agreste, em Serra Talhada. O edital foi muito questionado. Em 3
novembro, o governo cancelou a licitação, para dias depois lançar um
novo edital, com previsão de entrega de propostas para ontem. Mas na
última segunda-feira, após mais questionamentos, a concorrência foi
adiada para o dia 10 de março.
O eterno impasse do Ramal do Agreste não
diminui os problemas dos “encanamentos internos” da transposição em
Pernambuco, a Adutora do Agreste. A obra é executada pela Companhia
Pernambucana de Saneamento (Compesa). A estatal assumiu o conjunto de
tubulações, de mais de R$ 2,3 bilhões, maior obra hídrica do Nordeste
depois da própria transposição, mediante um acordo com o Ministério da
Integração Nacional, que fechou convênio para enviar à Compesa R$ 1,386
bilhão.
Com o acerto, a estatal de Pernambuco
contratou R$ 1,2 bilhão em obras e material. Recebeu e executou R$ 450
milhões. Mas o dinheiro começou a chegar de forma irregular até que em
outubro passado parou, deixando para a Compesa um rombo de R$ 75 milhões
com a obra em 2014, diz o presidente da Compesa, Roberto Tavares.
O fornecedor das tubulações, a Saint
Gobain, só na primeira fase vai usar mais de 100 mil toneladas de tubos
de aço, boa parte do material importada. “A instabilidade nos pagamentos
cria insegurança no fornecedor, que precisa antecipar em 90 dias a
importação de cada lote. Ele diminui a velocidade de importação”,
comenta. O cronograma ficou tão bagunçado que não é possível redefinir
hoje o prazo de entrega da obra.
Tavares diz que vai procurar o ministro
da Integração, Gilberto Occhi, para pactuar um novo ritmo de pagamentos,
bem como o segundo convênio, de R$ 1 bilhão, para a Adutora do Agreste.
“Se houvesse recursos, poderíamos entregar a adutora ainda este ano”,
conta.
Fonte: jconline.ne10.uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário